quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Notas sobre a Fraternitas Rosicruciana Antiqua & a Lei de Thelema

Caros amigos:

Li com muito interesse um artigo de Carlos Raposo, publicado no site “Thelema – Espaço Novo Æon[1]. sob o título "A Fraternitas Rosicruciana Antiqua e a chegada de Thelema ao Brasil".  Com seu estilo inconfundível, Carlos  Raposo é preciso em seus argumentos, tendo sempre por base fontes fidedignas.

Entretanto, para que não haja equívocos futuros, preciso esclarecer alguns pontos que podem nortear a pesquisa dos buscadores sinceros.
  1. Sem dúvida, a FRA foi a primeira Fraternidade que apresentou em um periódico, a Revista Gnose, material original de Mestre Therion traduzido. Restringiu-se ao Liber IV parte I e II,  em alguns capítulos que são de interesse da própria FRA. No caso do exemplar da revista disponibilizada por Carlos, as páginas 134 a 138, tratam do último capítulo de Liber IV parte I Yoga e Misticismo.
  2. Nos Rituais dos Graus I e II da FRA, há a referência à Thelema como uma divisa, um lema. "A nossa divisa é Thelema”, aparece em ambos os rituais.
  3. Krumm-Heller tinha por Crowley grande admiração e ao encontrá-lo em 1930 em Berlim, por ele foi influenciado, tanto que ao compor a Missa Gnóstica da FRA e os dois Rituais de Grau citados, colocou neles que “…a nossa divisa é Thelema”. Mas, à luz de documentos, que só temos acesso pelo que é citado por Koenig em seu site (http://www.parareligion.ch/fra.htm), não há referência a Krumm-Heller como discípulo de Crowley. Alguns podem argumentar: mas o Motta não diz isso, que Krumm-Heller era discípulo de Crowley? Bem, não me lembro, talvez esteja na própria biografia do Motta. Não conferi. Mas, o que Koenig diz é bem mais convincente para mim. Nos dias de hoje, duvido muito que tanto a liderança da FRA no Brasil, quanto seus integrantes concordem que Krumm-Heller tivesse sido discípulo de Crowley. A Alegação de que Krumm-Heller, feita por ele mesmo em LOGOS, MANTRAM E MAGIA, de que ele fora membro da A∴A∴, não se sustenta por documentos.
  4. O que temos de notar é que a FRA não falou de Thelema, nem como divisa, nem como uma Lei, nem publicou em sua “Revista Rosacruz”, nenhum escrito de Crowley antes de 1930, exatamente o ano que Krumm-Heller o conheceu.
  5. A FRA, no Brasil, iniciou suas atividades em 1933. Já havia muitas Aulas Lucis espalhadas pela América Latina. A grande pergunta é: por que todas estas Aulas Lucis não estavam envolvidas no trabalho de disponibilização de escritos de Crowley, bem como da Lei de Thelema? Na época, Huiracocha estava à frente da FRA como Comendador Mundial da Fraternidade. Não é de se imaginar que uma orientação para uma representação fosse igual para outra?
  6. É fato que podemos utilizar as informações dadas por Crowley, em muitos dos seus livros e Libri, independente do contexto “thelêmico”. Afinal, os Rituais apresentados em Liber Manus et Saggitæ não são todos da Golden Dawn? Discordo, com todo respeito ao pesquisador e amigo Carlos Raposo, que a publicação de traduções da obra de Crowley, mormente aquelas de Liber IV, feitas na Revista Gnose, embora seja parte do sistema thelêmico, tenham sido disponibilizadas para divulgar Thelema.
  7. A FRA não é e nunca foi uma Ordem Thelemica. Ela não proclama o axioma “Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei – Amor é a lei, amor sob vontade”. A visão de krumm-Heller de Thelema e que ele incorporou à FRA como uma divisa é “Faze o que tu queres, mas, sabes que terás que dar conta de teus atos”. Para FRA, a divisa Thelema, a Verdadeira Vontade, é um princípio universal, atemporal (nada tem a ver com æons), onde a Vontade de Deus é expressa de maneira natural em nós, conduzindo-nos à verdadeira compreensão de seus propósitos. Extrapolando, poderíamos comparar Thelema, na visão da FRA, à Gnosis que nos reconduz à Casa do Pai. Isto está implícito nas palavras de Paulo “já não sou eu que vivo, mas, o Cristo vive em mim” (note que ele fala de Cristo, não Jesus); “morrem em Cristo para mim é vida”; ou nas palavras do próprio Jesus “Faça-se em mim a tua vontade, não a minha”.
  8. Amigos, não se equivoquem, a FRA é uma Fraternidade cristão-gnóstica, seu linguajar e interpretações estão no âmbito do Evangelho Ortodoxo e do Apócrifo Pistis Sophia, base de sua Ecclesia Gnóstica.
  9. Ordens Thelemicas têm compromisso em incentivar a vivência de seus membros na Lei de Thelema, conforme o axioma citado, corroborado pelas explicações dadas por Mestre Therion, assim como proclamar a Lei e seu Livro Mater – Liber Al vel Legis (O Livro da Lei), o documento fundamental do Æon de Aquarius-Leo. É esse o objetivo da FRA? Claro que não.
  10. A publicação de traduções de Crowley na Revista Gnose nos faz ver que, nos anos trinta, havia pessoas no Brasil que buscavam informações além daquelas de sua fraternidade. Perguntamos: isso fez alguma diferença para o público em geral? Acorreram à FRA pessoas interessadas em Thelema por causa das publicações da Revista Gnose? Quando é que realmente os brasileiros tiveram notícia que havia uma Lei de Thelema, difundida principalmente por duas Ordens, a O.T.O. e a A∴A∴? Em 1962, com a publicação de Chamando os Filhos do Sol. Foi a partir de Motta e seu livro que pessoas começaram a ter informações sobre Thelema no Brasil. Podem considerar Motta o que quiserem, maluco, megalômano, arbitrário, ou seja lá o que for, mas, é inegável seu pioneirismo no Brasil na divulgação da Lei de Thelema.
  11. Devemos notar que a própria FRA não propaga que tem esse “pioneirismo”. Não há o mínimo motivo para isso, pois, os objetivos da FRA são diferentes daqueles das ordens thelêmicas. Na FRA, Krumm-Heller é o Grande Mestre, emissário na Grande Fraternidade Branca. No passado, embora homenageado por um quadro, poucos sabiam quem era Crowley. Hoje em dia, no ramo brasileiro da FRA  conhecida como FRA THURIZAR, a aversão a Crowley é tão grande, que muitos de lá procuram extirpar dos ensinamentos da Ordem, qualquer referência a ele e a Thelema.
  12. Desta forma, com respeito à opinião do amigo de longa data, Carlos Raposo, discordo que Thelema tenha chegado ao Brasil com a FRA e reafirmo que foi Marcelo Ramos Motta, que em 1962, com a publicação de seu Livro, trouxe a Lei de Thelema, em suas duas principais expressões na época, para o nosso país.
    Saudações fraternas a todos.
Marcos Pereira

Notas:

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