Marcos Pagani
Marcos Pagani
A Igreja Gnóstica de Mestre Huiracocha - Estudo 4 - A Missa Gnóstica - Primeira parte
De certo, recorri a algumas consultas com pessoas de longa data na FRA, e destas consultas resultou uma visão diferente de alguns ramos que, em busca de um aperfeiçoamento, por vezes criam critérios e ideias sobre os Graus, por vezes díspares, daquelas originais do Mestre Huiracocha.
Vamos fazer algumas reflexões:
1- Mestre Huiracocha foi membro da Maçonaria Regular, e também da Maçonaria do Rito Menfís-Misraim (Isto é fato comprovado).
2 - Mestre Huiracocha foi Membro da Ordem Martinista (Isto é fato comprovado)
3 - Mestre Huiracocha foi membro da O.T.O. na época de Theodor Reuss (Isto é fato comprovado)
Com base nisto podemos deduzir:
4 - Que Mestre Huiracocha teve da estrutura geral da Maçonaria Universal (base de todos os sistemas que comprovadamente participou) uma profunda influência, aliada a ideias "Rosicrucianas", que, cada vez mais se comprova que influenciaram a "Maçonaria".
5 - Podemos comprovar isso com a estrutura de Graus Litúrgicos da FRA, composta por três Graus, que nos sistema original não possuem títulos (apenas Grau I, II e III [1])
6 - Na FRA há apenas um Ritual de Iniciação, juntamente ao Grau I, sendo a elevação e a exaltação (referências de termos tipicamente maçônicos) nomeações simples, sem ritual específico ou com cerimônia simples.
7 - Ao analisarmos o Ritual de Iniciação ao Grau I, vemos uma cerimônia muito similar ao Grau de Aprendiz Maçom (Grau I), a saber:
a) Câmara das Reflexões
b) Testamento Filosófico
c) Uso de venda durante o cerimonial.
d) As Viagens Simbólicas e as correspondentes perguntas e discursos das mesmas, adaptados a uma visão iniciática Rosicruciana.
e) O juramento.
8- Podemos deduzir, quase sem dúvida, que a estrutura apresentada é àquela do processo iniciático ocidental codificado pela mais antiga Ordem Iniciática do Ocidente ainda em atuação - A Maçonaria.
9 - Notamos, também, ao buscar uma resposta para o porquê de ser uma única iniciação e não uma para cada grau (como acontece na Mçonaria), que Mestre Huiracocha pode ter pensado no Grau 18 do Rito Escocês Antigo e Aceito, chamado Cavaleiro Rosa-Cruz ou Príncipe Rosa-Cruz.
Neste Grau há três Câmaras, ou três momentos, que explicam os objetivos e trabalhos Rosicrucianos.
10 - Poderíamos perguntar por que Mestre Huiracocha não optou, portanto, por uma variação da cerimônia do grau 18 ao invés de optar pela do Grau 1?
Podemos especular que há similaridades estruturais entre as duas cerimônias, sendo a principal, as três viagens e as três Câmaras, pois as três Viagens apresentam os aspectos de cada Grau, enquanto, cada câmara estaria dentro da perspectiva Rosicruciana, os objetivos específicos dia Graus I, II e III.
11- OS membros da FRA, logo argumentarão: nunca ouvi falar nisso, onde está o escrito de Krumm-Heller que fala disso? Simplesmente não há. Mestre Huiracocha nunca escreveu sobre os Graus, nem quanto aos número deles ou sua essência.
Via de regra, a base do Grau está no Ritual do Grau. Mas há algo de estranho;
a)O Ritual do Grau I tem por base paráfrases do Capítulo I de Liber vel Legus de Mestre Therion.
O Ritual do Grau II o capítulo II, do citado Liber AL.
Mas, o Grau III, tem por base a Liturgia de Mithras, conforme publicada por G.R. Mead em sua série Echoes from the Gnosis.
A pergunta que não quer calar: Por que Mestre Huiracocha não seguiu com o um m ritual baseado no Capítulo III de Liber Al vel Legis?
Alguém disse uma vez na FRA Brasil, que há um documento de Krumm-Heller com o ritual Grau III datado de 1939, mas isso não se sustentou, tendo sido admitido que alguém elaborou o rirual na FRA Brasil, tendo sido apresentado a Krumm-Heller, que o aprovou. Isto é muito improvável, pois já havia começado a Segunda Guerra e é notório que houve um afastamento das "FRAs" com o líder Mundial, tendo sido uma oportunidade para alguns ramos se proclamar independentes.
Relembre-se que foi durante a segunda guerra que cresceu a atuação de Elias Bucheli, pela FRC americana, que se infiltrou na FRA na América Latina, com. O discurso de Krumm-Heller ter morrido na Alemanha. Uma mentira que fez Clymer lançar seus tentáculos nos ramos da FRA, que se tornaram independentes.
Continuamos nossas pesquisas.
Devemos ressaltar, entretanto, que enquanto os Rituais dos Graus I e II, tem por base muitas paráfrases de Liber Al vel Legis (Livro da Lei - revelado em 1904 e.v. no Cairo, Egito, por Aleister Crowley), o Ritual do Grau III no Brasil tem por base a Liturgia de Mithra.
Sem dúvida, este é o roteiro que a FRA indica para cada um daqueles que batem à sua porta.
Outrossim, o que é esta busca da Iniciação? Quais são os métodos propugnados pela FRA? É o sistema da FRA eficiente e confiável?
A busca da iniciação é a busca de si próprio, isto é, daquele estado de consciência onde cada um se torna "indivíduo", certo de sua vontade e com capacidade para cumpri-la. É o estado no qual se está no "mundo", se vive o "mundo", se realiza no "mundo", mas, se sabe que não somos deste "mundo".
Dizia o Profeta Mohammad em seu Livro Sagrado o Alcorão: "Vivei no mundo como Peregrinos". E o "peregrino" é uma das mais fortes imagens do "Buscador".
Alguns imaginam que, tornar-se um Iniciado é viver alienado dos problemas mundanos, mas isso é um equívoco. O Iniciado não deixa, como dito acima, de viver no "mundo", não se torna um ser anti-social, afinal "barbarum bon facit philosophum"1. O Iniciado, consciente de sua tarefa de constante busca, de sua responsabilidade em compartilhar aquilo que conquistou com seu semelhante e, de alguma maneira, contribuir para a diminuição da dor alheia, segue sua vida como um ser humano comum. É em seu laboratório interior que trabalha por sua própria redenção, no silêncio e anonimato tão característico daqueles que nobre espírito.
A FRA propõe, assim, um sistema eficiente e confiável, que permite ao buscador resultados efetivos nas diversas etapas do Caminho.
Falaremos apenas da primeira etapa: A Aula Fundamental.
Em sua origem, a Aula Fundamental constituía-se em um conjunto de informações dadas aos interessados no Caminho da FRA, durante um certo período (um ano aproximadamente), selecionando-se aqueles que estavam em condições de seguirem a Senda em uma Loja Interna.
No Grupo Krumm-Heller de Estudos, a Aula Fundamental constitui-se em uma classe de estudantes que estão em "provas" de persistência e dedicação, condições exigidas para o ingresso num grupo de estudos mais profundos, um "Grupo Interno". .
De acordo com o ramo da FRA, o curriculo da Aula Fundamental varia. Em alguns é chamado Período de Neófito (FRA Venezuela) e de caráter eminentemente prático; em outros são ministrados práticas aliados a Curso voltado para a saúde (Curso Super-Homem, na FRA Thurizar), No GKHE, optamos em ministrar o Curso Metafísica Prática, tendo além do objetivo já citado, aquele de passar conceitos essenciais e de apresentar o método prático da Ordem.
O que é importante é que cada ramo mantenha uma antecâmara para a Ordem, onde o buscador, em plena liberdade, tem acesso a conceitos e práticas que o possibilitarão refletir se a FRA é ou não o seu Caminho.
Todas as Ordens Verdadeiras são "meios" e todos sabemos que muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos. Assim, como um meio, há de se manter um trabalho institucional, que proporcione a busca àquele(a) que é sincero(a), pois como disse Huiracocha: "Se conseguirmos que alguns penetrem nos mistérios, já me darei por satisfeito e ficarei contente". (Tirado do prefácio do Livro Igreja Gnóstica - Edição FEEU).
Marcos Pereira
Notas sobre a Fraternitas Rosicruciana Antiqua & a Lei de Thelema
- Sem dúvida, a FRA foi a primeira Fraternidade que apresentou em um periódico, a Revista Gnose, material original de Mestre Therion traduzido. Restringiu-se ao Liber IV parte I e II, em alguns capítulos que são de interesse da própria FRA. No caso do exemplar da revista disponibilizada por Carlos, as páginas 134 a 138, tratam do último capítulo de Liber IV parte I Yoga e Misticismo.
- Nos Rituais dos Graus I e II da FRA, há a referência à Thelema como uma divisa, um lema. "A nossa divisa é Thelema”, aparece em ambos os rituais.
- Krumm-Heller tinha por Crowley grande admiração e ao encontrá-lo em 1930 em Berlim, por ele foi influenciado, tanto que ao compor a Missa Gnóstica da FRA e os dois Rituais de Grau citados, colocou neles que “…a nossa divisa é Thelema”. Mas, à luz de documentos, que só temos acesso pelo que é citado por Koenig em seu site (http://www.parareligion.ch/fra.htm), não há referência a Krumm-Heller como discípulo de Crowley. Alguns podem argumentar: mas o Motta não diz isso, que Krumm-Heller era discípulo de Crowley? Bem, não me lembro, talvez esteja na própria biografia do Motta. Não conferi. Mas, o que Koenig diz é bem mais convincente para mim. Nos dias de hoje, duvido muito que tanto a liderança da FRA no Brasil, quanto seus integrantes concordem que Krumm-Heller tivesse sido discípulo de Crowley. A Alegação de que Krumm-Heller, feita por ele mesmo em LOGOS, MANTRAM E MAGIA, de que ele fora membro da A∴A∴, não se sustenta por documentos.
- O que temos de notar é que a FRA não falou de Thelema, nem como divisa, nem como uma Lei, nem publicou em sua “Revista Rosacruz”, nenhum escrito de Crowley antes de 1930, exatamente o ano que Krumm-Heller o conheceu.
- A FRA, no Brasil, iniciou suas atividades em 1933. Já havia muitas Aulas Lucis espalhadas pela América Latina. A grande pergunta é: por que todas estas Aulas Lucis não estavam envolvidas no trabalho de disponibilização de escritos de Crowley, bem como da Lei de Thelema? Na época, Huiracocha estava à frente da FRA como Comendador Mundial da Fraternidade. Não é de se imaginar que uma orientação para uma representação fosse igual para outra?
- É fato que podemos utilizar as informações dadas por Crowley, em muitos dos seus livros e Libri, independente do contexto “thelêmico”. Afinal, os Rituais apresentados em Liber Manus et Saggitæ não são todos da Golden Dawn? Discordo, com todo respeito ao pesquisador e amigo Carlos Raposo, que a publicação de traduções da obra de Crowley, mormente aquelas de Liber IV, feitas na Revista Gnose, embora seja parte do sistema thelêmico, tenham sido disponibilizadas para divulgar Thelema.
- A FRA não é e nunca foi uma Ordem Thelemica. Ela não proclama o axioma “Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei – Amor é a lei, amor sob vontade”. A visão de krumm-Heller de Thelema e que ele incorporou à FRA como uma divisa é “Faze o que tu queres, mas, sabes que terás que dar conta de teus atos”. Para FRA, a divisa Thelema, a Verdadeira Vontade, é um princípio universal, atemporal (nada tem a ver com æons), onde a Vontade de Deus é expressa de maneira natural em nós, conduzindo-nos à verdadeira compreensão de seus propósitos. Extrapolando, poderíamos comparar Thelema, na visão da FRA, à Gnosis que nos reconduz à Casa do Pai. Isto está implícito nas palavras de Paulo “já não sou eu que vivo, mas, o Cristo vive em mim” (note que ele fala de Cristo, não Jesus); “morrem em Cristo para mim é vida”; ou nas palavras do próprio Jesus “Faça-se em mim a tua vontade, não a minha”.
- Amigos, não se equivoquem, a FRA é uma Fraternidade cristão-gnóstica, seu linguajar e interpretações estão no âmbito do Evangelho Ortodoxo e do Apócrifo Pistis Sophia, base de sua Ecclesia Gnóstica.
- Ordens Thelemicas têm compromisso em incentivar a vivência de seus membros na Lei de Thelema, conforme o axioma citado, corroborado pelas explicações dadas por Mestre Therion, assim como proclamar a Lei e seu Livro Mater – Liber Al vel Legis (O Livro da Lei), o documento fundamental do Æon de Aquarius-Leo. É esse o objetivo da FRA? Claro que não.
- A publicação de traduções de Crowley na Revista Gnose nos faz ver que, nos anos trinta, havia pessoas no Brasil que buscavam informações além daquelas de sua fraternidade. Perguntamos: isso fez alguma diferença para o público em geral? Acorreram à FRA pessoas interessadas em Thelema por causa das publicações da Revista Gnose? Quando é que realmente os brasileiros tiveram notícia que havia uma Lei de Thelema, difundida principalmente por duas Ordens, a O.T.O. e a A∴A∴? Em 1962, com a publicação de Chamando os Filhos do Sol. Foi a partir de Motta e seu livro que pessoas começaram a ter informações sobre Thelema no Brasil. Podem considerar Motta o que quiserem, maluco, megalômano, arbitrário, ou seja lá o que for, mas, é inegável seu pioneirismo no Brasil na divulgação da Lei de Thelema.
- Devemos notar que a própria FRA não propaga que tem esse “pioneirismo”. Não há o mínimo motivo para isso, pois, os objetivos da FRA são diferentes daqueles das ordens thelêmicas. Na FRA, Krumm-Heller é o Grande Mestre, emissário na Grande Fraternidade Branca. No passado, embora homenageado por um quadro, poucos sabiam quem era Crowley. Hoje em dia, no ramo brasileiro da FRA conhecida como FRA THURIZAR, a aversão a Crowley é tão grande, que muitos de lá procuram extirpar dos ensinamentos da Ordem, qualquer referência a ele e a Thelema.
- Desta forma, com respeito à opinião do amigo de longa data, Carlos Raposo, discordo que Thelema tenha chegado ao Brasil com a FRA e reafirmo que foi Marcelo Ramos Motta, que em 1962, com a publicação de seu Livro, trouxe a Lei de Thelema, em suas duas principais expressões na época, para o nosso país.
Que cada um que nos visite, tenha a certeza que nosso objetivo, também, é o de auxiliar os membros da FRA, seja que ramo for, a estar em linha com o sistema original, independente das tendências que seu ramo siga atualmente. Não objetivamos alterar nada. Cada ramo é independente e livre para ter suas próprias preferências. O que as lideranças desses ramos não podem é impedir que seus membros tenham acesso ao que o criador do sistema disponibilizou originalmente. Isso o fará compreender os porquês das mudanças.
Ajudar, debater, por vezes até polemizar, mas nunca destratar ou invalidar qualquer ramo, embora, a mente retrógrada de algumas lideranças, considerarão, de maneira infantil, que somos uma ameaça. Não somos. Se eles viveram o Sistema de Krumm-Heller em verdade, verão em nossas atitudes, meios para preservar o legado deixado e, com segurança, a partir desse legado, poderão fazer o sistema evoluir de maneira natural, não arbitrária como é feito atualmente por alguns.
Há dois caminhos: ou as lideranças reagem e vamos ao diálogo ou prevalecerá a indiferença e silêncio daqueles que de sua posição de mando administrativo, na empáfia de pretensos graus alcançados, preferem o silêncio do "não quero saber disso". A morte nos iguala a todos. E pior do que a morte do corpo (e do ego) e a morte do ideal.
Pensemos.
Marcos Pereira
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Sobre la Fraternitas Rosicruciana Antiqua.
Ao reproduzirmos aqui este artigo, com a devida permissão do falecido, querido Irmão Prisciiano II (Pablo Mattos) da Argentina, é lícito esc...