
Todo buscador ao chegar à FRA é convidado para, independente de ser
iniciado na mesma, frequentar a Missa semanal, a cargo da Igreja
Gnóstica. Este momento solene e importantíssimo, sem dúvida, leva o
participante que aceitou esse convite, que em muitas situações é um
verdadeiro “chamado”, a buscar informações sobre o que é Gnosis e
Gnosrticismo, sua história e ensinamentos. Para o sincero buscador esta é
uma encantadora fase de descobertas.
Como não poderia deixar de
ser, precisamos ter uma base em Mestre Huiracocha. Temos assim, a
seguinte citação em seu excelente livro a Igreja Gnóstica:
“Nós
somos filhos de uma Religião que que tem por normas a Alegria e o
Otimismo. Sendo Epicureus espiritualistas, porque sabemos que Epicuro
foi iniciado em nossos Mistérios. Antes de seguir adiante, vamos entrar
em um pouco de história sobre as Doutrinas das mais proeminentes
escolas, seitas e congregações gnósticas”.
Para o Mestre, assim,
era muito importante que se abordasse as doutrinas das “principais
escolas, seitas e congregações gnósticas”. Esse pequena declaração,
considerada por muitos como corriqueira, quando olhada à luz dos atuais
conhecimentos sobre o tema “Gnosis e Gnosticismo”, possui uma precisão
fantástica.
Assim, vejamos:
Os estudiosos do Gnosticismo no século XX, principalmente depois de publicado o magistral Livro de Hans Jonas, Religião Gnóstica, tenderam a expor as diversas manifestações da Gnosis nos séculos I e II, como uma tendência com muitas características em comum, colocando-as todas sobre um mesmo rótulo - Gnosticismo.
As várias opiniões que surgiram na época, não
conseguiram, ou pelo menos não houve unanimidade em classificar,
plenamente, o que significa integralmente “Gnosticismo”, quando se fala
das primeiras manifestações.
Alguns perguntarão: Como assim, não há uma definição absoluta para o que é Gnosticismo? Calma, vamos explicar.
Diz-nos a pesquisadora April D. DeConick, em seu Livro The Thirteenth
Apostle – What the Gospel of Judas Really Says, no Capítulo II: “ Nós
percebemos, após examinarmos a literatura Gnóstica, redescoberta nos
anos 40 em Nag Hammadi, no Egito, que a rubrica “Gnosticismo” é um nome
impróprio. Este é um termo moderno que estudiosos contemporâneos
inventaram, mas do que uma palavra que descreve uma religião histórica
do segundo século. Os estudiosos construíram um entendimento moderno do
Gnosticismo para ajudar a descrever aqueles grupos no mundo antigo,
cujos líderes da Igreja Ortodoxa, classificaram como desviados e
heréticos. Nós entendemos estes “cristãos” heréticos, como participantes
internos de uma religiosidade, uma religião “guarda-chuva” que nós
chamamos de Gnosticismo. O Gnosticismo veio representar para nós uma
forma de religião no mundo antigo que se opôs ao Judaísmo e ao
Cristianismo, sendo considerado a perversão de uma moralidade e de uma
piedade, além da Teologia. Os estudiosos do século XX o descreve como
uma forma de religiosidade caracterizada por uma visão negativa do mundo
e da existência, sucumbindo a um niilismo cósmico e uma profunda ânsia
pelo espiritual”.
“Mas, essa visão romântica, tem sido chamada a um questionamento. A Análise dos textos de Nag Hammadi nos mostra que não havia uma religião Gnóstica genérica, ao menos até o terceiro século. Isto não significa, contudo, que não haviam gnósticos! Da mesma forma, não havia a Igreja do Gnosticismo; o que havia era Judeus e Cristãos que eram “esotericamente” orientados e ansiavam por “Gnosis”. Alguns deles formavam conventículos, lojas ou seminários, círculos aparte da sinagoga ou da igreja, enquanto outros, frequentavam a sinagoga ou a igreja, enquanto, também, faziam parte de uma dessas sociedades secretas. As comunidades que eles formaram não eram parte de uma religião Gnóstica, mas ao contrário eram, formalmente, distintos uns dos outros, especialmente com relação à posição social, práticas rituais e mesmo sistemas teológicos. Em outras palavras, os vários cristãos gnósticos não entendiam a si próprios como membros de uma mesma comunidade religiosa, mesmo que algumas de suas características fossem comuns”.
Notemos que Mestre Huiracocha, corretamente, entende
diversas tendência (escolas), os aspectos sectários (seitas) e conjunto
de pessoas que se desenvolvem separadamente (congregações).
Por
exemplo, Marcionitas e Ebionitas, defendem pontos de vista completmente
diferentes. Valentinianos não se consideravam heréticos e queriam
continuar no seio da Igreja e se consideravam na linha apostólica.
Thomasinos, eram contra a qualquer tipo de sexualidade. Sethianos era
anti-apostólicos e criticavam cada um deles (vide Evangelho de Judas), .
Podemos notar, particularidades entre Ofitas, Carpocratianos, Naasenos,
Basilinos, Marcosinos, etc. Onde as diferenças são mais exaltadas do
que as coisas em comum nas suas práticas e exposição.
E por que o
Mestre nos pede para estuda-los? Porque, a Igreja Gnóstica da FRA (bem
como todas as outras manifestações néo-gnósticas), prefere expor a
síntese manifestada na Restauração Gnóstica de 1890, com Doinel, que
deteve-se naquilo que podia ser comum ou complementado. É lícito dizer, a
título de esclarecimento, que somente nos aspectos mágicos sexuais a
Igreja Gnóstica da FRA, via de regra, difere da primeira exposição de
Doinel, isso se devendo à influência de Peithmam, pois Doinel não aborda
esse tema abertamente.
Nem todos os movimentos qualificados
como Gnósticos no princípio do Cristianismo eram cristãos. Havia os
Hermetistas Neo-Platônicos por exemplo. Havia algumas tendências
judaicas de cunho esotérico, cujas visões são colocadas nas
interpretações talmúdicas, bem como nos Targuns.
Por isso é
difícil definir o termo Gnosticismo, mais aplicado aos neo-gnosticos do
que aos gnósticos clássicos. Embora isso possa parecer estranho é o
atual pensamento das maiores autoridades neste campo de estudos.
Continuaremos no Estudo da Gnose Antiga, na análise dos diversos
movimentos que, mais tarde foram classificados como gnósticos na parte
II deste estudo.
Que as Rosas Floresçam na Cruz